sábado, 21 de abril de 2012

O fiel relato de um Ceifeiro.


A alma que agora sobrevoa o corpo, translúcida de descrença, não acreditando que está ali em sua própria frente vendo sua própria imagem. O corpo, já não vive, não pulsa gelado. Um morto entre os vivos da desesperança, que crêem estar vivendo de forma certa. Mais afinal tão evidente quanto à morte é a vida.
Os parentes ali em roda, lamentando este funeral sem graça, que tantos já vi, numa pequena cidadezinha imprópria, em um cemitério que futuramente se tornará desprezível e inabitável, e apenas lá estarão as almas dos que já se foram. A alma que ali caminha melancólica e sádica. Sem sentido pela trilha da ilusão.
Compartilhando tanto desespero de um mundo renegado por sua constante infelicidade, o nome do filho também era o nome do morto; Quem sou? Apenas uma aberração da natureza exercendo meu papel depois que deixei de viver... O fiel relato de um ceifeiro se corta na ultima lagrima de uma criança que perderá por impulso e sem culpa, o pai assassinado... Viverá agora, está criança, triste, desesperançada, com a certeza que nas noites frias de turbulentos pesadelos o pai já não irá para acalentá-lo de seus medos.
Eis me aqui acompanhando a alma deste homem, sabe-se lá para onde, enquanto sua tristeza o carregar, pela solidão escura do submundo; Eu, um pobre castigador das almas, estarei fazendo meu trabalho.

“Assassinato... Terça feira as 22h00min. O morto não se conforma de ter partido. Eu o anunciei, o guiei e o aconselho... A escuridão é menos desoladora se você puder conversar com a morte e fazê-la sua amiga. Seu filho chora... O mundo vivo... E aquela morte... O mundo agora...

HB.

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